Conheça mais sobre os propósitos das Cartilhas de Infraestruturas Feministas, baixe-as e compartilhe com sua rede.
Quem somos nós
A MariaLab é uma associação sem fins lucrativos que atua na intersecção entre política, gênero e suas tecnologias. Nosso trabalho nasceu do desejo de tornar os espaços de tecnologia mais plurais, envolvendo mais mulheres e pessoas trans, e promovendo um pensamento e discussão interseccional que inclua as populações invisibilizadas no desenho de tecnologias, sejam elas digitais ou não.
Para isso achamos importante construir ambientes seguros, virtuais e físicos, com recortes sociais, étnicos ou econômicos por entender que o aprendizado se constrói através da troca de saberes entre todas. Propomos também reconstruções e reapropriações nos modos como desenvolvemos e interagimos com infraestruturas tecnológicas. Acreditamos que a tecnologia é política e ambas podem ser feministas.
Fizemos em 2017 dois cursos presenciais focando em coletivos de mulheres: “Redes Autônomas” e “Servidoras Feministas”. O que apresentamos aqui é o resultado ampliado desse conteúdo para que possam ter acesso e compartilhar este conhecimento com outras mulheres sem que a geografia impeça o aprendizado.
Enredando territórios de cuidado: guia para aprendizado e construção de redes comunitárias
As redes comunitárias representam a possibilidade de uma comunidade debater, decidir e instalar sua própria tecnologia de comunicação em rede. As maneiras de alcançar esse objetivo são tão diversas quanto as comunidades em si e envolvem complexidades técnicas, de governança, de sustentabilidade de formação, entre outras.
Existem guias que se propõem a trabalhar todas essas etapas. Outros materiais separam o trabalho técnico do trabalho educativo ou político. Essa divisão de papéis frequentemente reproduz os papéis de gênero tão comuns em nossa sociedade: Os homens configuram os equipamentos e as mulheres cuidam do processo de aprendizagem.
Essa separação não nos interessa. Somos mulheres e queremos falar com mulheres, em todas as etapas do processo, e sem ignorar que a tecnologia é política. Como feministas negamos que os diferentes saberes possam ser hierarquizados de uma forma onde a ‘tecnologia’ se resuma aos saberes técnicos digitais em oposição aos demais processos. Também não acreditamos que o papel de manipular as tecnologias digitais pertença aos homens e que os papéis de cuidar do processo de aprendizagem, da articulação, da comida, e das demais tecnologias necessárias para implementar uma rede comunitária sejam papéis obrigatoriamente femininos.
Como disse Paulo Freire em Teoria e prática da educação popular:
“O conhecimento mais sistematizado é indispensável à luta popular […]
mas esse conhecimento deve percorrer os caminhos da prática”
Para nós tecnologia também é ferramenta de luta, e queremos aprender fazendo.
Convidamos você a fazer com a gente, a aprender os conceitos, as práticas e criar
sua própria rede comunitária itinerante.
Servidoras: como colocar seu site no ar
A evolução da tecnologia digital afetou a realidade social, estando presente em todas as esferas de nossas atividades, gerando novas relações a serem reguladas pelo sistema jurídico. A falta de leis consolidadas com relação a privacidade digital exige que cada indivíduo esteja preparado para enfrentar as novas situações e a invasão de privacidade decorrentes dessa nova visão sobre a privacidade entrelaçada com o surgimento de novas tecnologias de informação.
Para abordarmos o tema, no ano de 2017 iniciamos um projeto na MariaLab sobre Infraestruturas Feministas, dedicado a disseminar e incentivar a troca de conhecimentos sobre servidoras, redes autônomas, hacking e tecnologia feminista por grupos de mulheres.
Em linhas gerais, o nosso discurso acerca das “redes e tecnologias autônomas”, é de afirmar possibilidades de resistência à vigilância massiva e ao controle das comunicações realizadas por Estados e grandes corporações. Aceitarmos que isso ocorra, significa abrir mão da nossa privacidade e ao fazer isso estamos concordando com o fato de que qualquer governo ou corporação que se utilize desses recursos de vigilância, tenha acesso ilimitado às informações coletadas sobre nossas vidas.
Sob o olhar feminista, este conceito também significa resistir a um sistema e a uma infraestrutura de comunicação e informação que se constituiu em um espaço patriarcal, masculinizado, e sob o controle do norte global, estando as
mulheres (mais ainda as mulheres do sul global) invisibilizadas, ou até mesmo excluídas nesse processo. Prova disso, é a invisibilidade das criações de mulheres nas áreas de STEAM e da falta de presença de mulheres decidindo como essas estruturas serão incluídas na sociedade.
O direito fundamental à privacidade deve ser interpretado, não só como tutela de um interesse individual, mas como fundamento do Estado Democrático de Direito. Em termos práticos, tudo que está disponível na internet que for coletado por esses órgão e que não “agrade” ou sirva aos interesses de quem vigia você, hoje ou daqui a alguns anos, pode te tornar um alvo. Pode ser uma opinião sobre um governante ou marca nas redes sociais que te levem a ser processado ou até o valor diferenciado a ser cobrado por produtos e serviços baseados em análises do que você consome ou seu histórico de navegação.
Olhando o cenário por uma perspectiva de gênero, enxergamos uma grande dependência de terceiros (empresas e/ou profissionais técnicos homens cisgêneros) para gestão de dados, equipamentos eletrônicos e serviços hospedados na web (sites, email, repositório de arquivos, etc). Neste contexto verificamos a escassez de mulheres na tecnologia, onde a maioria de nós não encontra conteúdos acessíveis para a produção de um conhecimento de acordo com as nossas realidades.
Com isso, ainda em 2017, iniciamos dois cursos presenciais focando em coletivos de mulheres: “Redês Autônomas” e “Servidoras Feministas”. Este é o resultado ampliado do conteúdo aplicado em sala de aula para que possam ter acesso a este conhecimento e compartilhar com outras mulheres sem que a geografia impeça o aprendizado.